“Acredito muito na participação social como processo de mudança na conservação ambiental.”
E assim começamos a semana, inspirada por alguém que está no campo e não se deixa levar por mimimi!! Nada mais arrebatador do que resultados concretos. Nesta entrevista Edilaine mostra que o lugar de mulher é em qualquer lugar, mais principalmente onde é importante, e mostra que é possível conciliar maternidade, trabalho de extensão e educação.
Afinal ninguém sai para trabalhar se não vale realmente a pena.
Edilaine é bióloga, especialista em educação no campo e desenvolvimento territorial. Não bastasse essa importante formação, rara e necessária, iniciou seus trabalhos há 12 anos na Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), em Santa Catarina.
Conheci Edilaine dessa época, e da sua seriedade e foco, tive a certeza de que ficaria lá, apoiando em todos os projetos dessa emblemática instituição.
Não deu outra. Desde 2006, Edilaine atua em iniciativas de preservação e conservação do meio ambiente, por meio de projetos que visam à utilização sustentável dos recursos naturais e conservação de remanescentes florestais, visando à participação comunitária através de ações de conscientização ambiental.
“Atuo apoiando ações de conservação e gestão de unidades de conservação através da coordenação e execução de projetos participativos e o envolvimento da comunidade local, por meio dos processos de formação e capacitação de conselhos consultivos, elaboração de planos de manejo, realização de levantamentos socioeconômicos e ambientais e realização de reuniões de mobilização.”
Para mim, esse é o clássico projeto de Restauração em Paisagens Florestais, com equilíbrio entre conservação, resturação, diferentes usos de solo e ainda o envolvimento comunitário. Sou fã!
Ela conta que descobriu a oportunidade de fazer “algo pelas florestas” quando já estava quase no final da faculdade, e foi convidada a fazer um curso de restauração de áreas degradadas.
“Cheguei na Apremavi recém formada e com nada de experiência, mas encontrei ali o espaço para ter certeza que o caminho era unir a conservação com o envolvimento das pessoas”. Ela acrescenta “Acredito que a seriedade, o comprometimento, a competência e a vontade de fazer as coisas acontecerem, de ver bons projetos saírem do papel, nos leva naturalmente aonde queremos chegar.”
Com um trabalho bastante voltado ao atendimento e contato rural, sobre as os desafios de trabalhar no campo e ser mulher Edilaine acredita que se manter focada e fazer as coisas acontecerem é pode ajudar a transpassar ou minimizar as barreiras. Mas, conta que “É inevitável os comentários machistas, pois sim, eles ainda acontecem. Ainda vemos no contexto geral os homens em alguns momentos momentos “torcerem o nariz” e nos desafiar mesmo que inconscientemente.”
Casada, mãe de um filho ela comenta que um dos maiores desafios ainda é conciliar a vida pessoal com a vida profissional. Diz que a principal frase que escuta é “como tem coragem de deixar seu filho em casa com o pai para ir trabalhar”?
Para essa pergunta (super comum, mas vazia de propósito!!) ela já tem a resposta pronta: “Estou trabalhando por um futuro melhor para eles e para nós”. Afinal, nenhuma mãe tem coragem de “largar” o filho se não valer realmente a pena!! #fica a dica!
No balanço geral, ela acredita que teve muitas oportunidades e que encontrou no caminho outras mulheres que a inspiraram, como Miriam (mais uma Mulher de ImPACTO) além de homens que acreditaram e apostam no seu potencial.
Com clareza, ela esclarece que a estratégia para suplantar os desafios é fazer acontecer, “mostrar o nosso potencial e não se apegar ao fato de sermos mulheres”. E acrescenta um comentário no mínimo desconcertante: “cada dia que passa, me convenço que o machismo também vem das próprias mulheres”. Segura essa mulherada!!
Em sua opinião, com o passar dos anos as mulheres vem conquistando novos espaços, sendo cada vez mais comum ver mulheres nas rodas de discussão ambiental e cita que na Apremavi já tiveram um projeto coordenado e executado 80% por mulheres, com igualdade nas discussões e nas tomadas de decisão. Essa, entretanto, não é a realidade no campo, onde observa pouca participação feminina.
“ Em reuniões com comunidades rurais, quem participa ainda é o homem; em sindicatos, ainda não conheço nenhum que tenha uma mulher na liderança, e aí vem a famosa frase eles participam, mas a mulher é quem decide”. E acrescenta: “Não acredito que seja assim, não é uma questão de a mulher decidir ou não; é uma questão de participar, de ser ouvida, de dar a sua opinião. Se tudo isso acontecesse ela estaria presente nos espaços participando e opinando, e não omissa em outros afazeres.
Para mudar essa realidade ela acredita em ações práticas, como trabalhar de igual para igual. “financiamentos específicos para trabalhar com mulheres podem ajudar a resolver o problema, mas os dois (homem e mulher) tem que estar cientes do seu papel na sociedade. E mais, a mulher tem que estar motivada a participar desse processo de mudança”
E finaliza com a seguinte reflexão:
“Penso que devemos ser muito cautelosos no que acreditamos e defendemos, pois nenhuma verdade é absoluta; por isso, acredito muito na participação social como processo de mudança na conservação ambiental.”
Palavras de quem sabe o que faz!