Marcos Rosa, geógrafo e coordenador técnico do MapBiomas

Marcos Rosa: “compromisso com a restauração da Mata Atlântica pode ter papel crucial no combate a mudança climática”

CRAQUES DA RESTAURAÇÃO: o geógrafo e ex-conselheiro do Pacto reforça a necessidade de atuação regionalizada no bioma e enfatiza a eficácia da restauração na captura de carbono atmosférico

Marcos Rosa, geógrafo e coordenador técnico do MapBiomas
Marcos Rosa, geógrafo, ex-conselheiro do Pacto, é coordenador técnico do MapBiomas

No mês de agosto, a série Craques da Restauração destaca a atuação do geógrafo Marcos Rosa em iniciativas de geoprocessamento para a conservação e restauração da Mata Atlântica. Na entrevista, o ex-conselheiro do Pacto reforça a necessidade de atuação regionalizada para contornar desafios relacionados ao combate ao desmatamento e à restauração dos ecossistemas. 

Doutor em Geografia Física pela Universidade de São Paulo (USP), Marcos é coordenador técnico do projeto MapBiomas, responsável técnico pelo Atlas dos Remanescentes Florestais da SOS Mata Atlântica/INPE, e também é responsável técnico pela ArcPlan, empresa membro do Pacto. 

Sua sólida experiência de mais de duas décadas está centrada nas áreas de geoprocessamento, cartografia digital e sensoriamento remoto, com foco em planejamento, monitoramento e outros aspectos ambientais.

Leia a íntegra da conversa com Marcos e saiba mais sobre seu histórico e suas perspectivas para o setor.

Como você se aproximou da restauração de ecossistemas e quais suas principais experiências no setor?

Ao trabalhar no mapeamento e monitoramento da cobertura vegetal da Mata Atlântica, pude perceber a importância de entender e monitorar as áreas em regeneração, por isso levei o tema para minha pesquisa de doutorado, que partia da hipótese de que o desmatamento na Mata Atlântica já estava praticamente sob controle e que o foco deveria estar concentrado na restauração de ecossistemas do Bioma. 

Durante minha pesquisa, foi possível aprofundar a questão e concluir que é necessário atuar de forma regionalizada. Por exemplo, existem regiões em que ainda há um desmatamento em ritmo inaceitável, onde matas antigas com muito carbono estocado são derrubadas e sua rica biodiversidade se torna cada vez mais ameaçada, como no sul do Paraná, no norte de Minas Gerais e no sul da Bahia. 

Já em outras áreas, existe um processo de crescimento da cobertura florestal, principalmente no entorno da hidrografia, com projetos de restauração de ecossistemas ou regeneração natural. Essas áreas são essenciais para a captura de carbono, proteção dos rios, criação de corredores e diminuição da distância entre fragmentos florestais.

O que você espera da Década das Nações Unidas da  na Mata Atlântica e no combate à mudança climática?

A Década da Restauração de Ecossistemas (2021-2030) é uma grande oportunidade para aplicarmos todo o conhecimento científico desenvolvido nos últimos anos e dar maior visibilidade à importância de preservar e restaurar a Mata Atlântica. Visando, com isso, a preservação da biodiversidade e também assegurando os serviços ambientais de produção de água, da qualidade do ar e da manutenção dos ciclos de chuva. 

O compromisso com a restauração da Mata Atlântica pode ter um papel crucial no combate às mudanças climáticas. Por exemplo, uma área restaurada captura muito carbono da atmosfera e o armazena nos troncos, raízes e solo durante as primeiras décadas de crescimento, enquanto a preservação das florestas mais antigas evita a emissão de carbono na atmosfera.

(O aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera é um dos principais causadores da mudança climática.)

Como as ferramentas de mapeamento colaboram e podem potencializar a restauração de ecossistemas da Mata Atlântica?

O mapeamento é essencial para produção do conhecimento que permite intervir de forma planejada na paisagem, identificando os desafios, riscos e potencialidades em cada região. 

Com ele, podemos também monitorar os fragmentos florestais mais antigos e possíveis ameaças, identificando e responsabilizando quem comete ilegalidades. 

O avanço tecnológico tem permitido que os governos, universidades e organizações da sociedade civil produzam e tornem público mapeamentos cada vez mais precisos, mais detalhados e mais frequentes sobre o uso da terra e cobertura da vegetação, tornando essa informação mais acessível e útil para quem está atuando na Mata Atlântica.

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