Estudo pioneiro auxiliará na compreensão dos fatores que levam produtor rural ou dono de terra a manter regenerantes naturais ou cortar a vegetação de jovens florestas
Levantamento inédito conduzido por organizações-membro do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e parceiros busca identificar as principais motivações para proprietários rurais permitirem a regeneração natural no bioma.
Conduzida em 20 municípios dos estados do Espírito Santo, Minas Gerais e Paraná, a pesquisa contou com participação de cerca de 200 proprietários rurais, entre setembro de 2020 e junho de 2022. As áreas investigadas foram escolhidas por meio do mapeamento de territórios com regeneração natural recente, identificadas por imagens de satélite, com o apoio do MapBiomas.
Coordenadora do levantamento, a bióloga Anazélia Tedesco, pesquisadora da Universidade de Queensland, na Austrália, conduz a realização do estudo. “A regeneração natural tem sido vista como uma estratégia promissora para dar escala às ações de restauração na Mata Atlântica, ao mesmo tempo que reduz os custos de implantação dos projetos”, contextualiza a bióloga.
As organizações que atuam em campo, no entanto, têm convivido com a incerteza quanto à manutenção, em longo prazo, dessas áreas regeneradas. “Se áreas de regeneração natural não persistirem no futuro, os resultados que se espera atingir com a restauração, como conservação da biodiversidade, sequestro de carbono e oferta de água, por exemplo, ficam comprometidos”, diz Tedesco.
Segundo a pesquisadora, o estudo pioneiro ajuda a compreender quais fatores levam o produtor rural ou dono de terra a cortar a vegetação de áreas recém-regeneradas. As informações podem lançar luz sobre como alcançar a proteção dessas jovens florestas.
“As formas de proteção da regeneração natural variam conforme o contexto e também são influenciadas por fatores socioeconômicos e psicológicos que influenciam a tomada de decisão dos proprietários rurais”, explica a bióloga. “É por isso que estamos focando nosso estudo em entender como o produtor decide se vai cortar ou manter áreas de regeneração natural”, completa.
Ainda em fase de consolidação de dados para publicação dos resultados, o estudo está sendo realizado em parceria com a Universidade de Queensland, Universidade de São Paulo (USP), Instituto Internacional para Sustentabilidade, The Nature Conservancy – Brasil, World Resources Institute – Brasil, Instituto Arapyaú, MapBiomas, MV Gestão Integrada, Cognition e Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais.
Reconhecimento motivador
Responsável pelo levantamento realizado nas regiões Oeste e Noroeste do estado do Paraná, a bióloga Ana Paula Silva, coordenadora de Projetos do instituto Mater Natura visitou mais de 100 propriedades. Foram obtidas respostas de 60 entrevistados.
“A expectativa é que a gente, como organização que trabalha com restauração florestal no campo, consiga receber uma orientação de como fazer o proprietário rural abrir a porteira dele com mais disponibilidade para as nossas iniciativas”, comenta Silva. “Pode ser uma sinalização para pagamento por serviços ambientais, algum incentivo financeiro ou mesmo uma atitude de reconhecimento, porque alguns não estão esperando dinheiro, mas sim que a sociedade reconheça a manutenção de áreas florestais”, exemplifica.
Resultados a caminho
Os resultados preliminares já elucidam como essa dinâmica acontece no meio rural.
As respostas de proprietários entrevistados indicam a existência de três perfis distintos: um primeiro grupo é dos que conservaram a regeneração natural e também fizeram manejo ativo dessas áreas, com enriquecimento de espécies, por exemplo; o segundo grupamento é dos que conservaram áreas de regeneração em sua propriedade, mas sem interferir no processo; e o terceiro é o daqueles que reconverteram essas áreas para outros usos, realizando o corte da regeneração natural.
Previstos para serem divulgados ao longo do segundo semestre deste ano, os resultados finais ajudarão a moldar iniciativas e políticas públicas voltadas para a restauração. Espera-se que seja possível promover ações e incentivos que favoreçam a manutenção da regeneração natural e permitam o necessário ganho de escala no volume de áreas restauradas na Mata Atlântica.